Texto: Rafael Duarte
Fotos: Anastácia Vaz
Os irmãos Valdir e Antônio de Medeiros entendem do riscado. Há 28 anos
no comando do ‘Caixa de Fósforo’, boteco encravado na rua Princesa
Isabel, no Centro, a dupla leva o barco devagar como nos sambas do
Paulinho da Viola. O botequim é, proporcionalmente, tão pequeno como uma
caixa de fósforo, mas ainda assim os proprietários conseguiram criar
dois ambientes: no balcão que dá para a rua, onde bebem os chamados
‘forasteiros’ e na parte interna, onde cabem, no máximo, 15 clientes
mais chegados.
Na parede improvisada do estabelecimento, uma
placa singela indica que o ambiente é de família e, por isso, higiene é
norma da casa. “Não pode jogar cerveja nem cuspir no chão aqui dentro,
senão isso aqui vira uma seboseira. Precisei botar essa placa aqui
porque tem gente que não respeita e cospe mesmo”, revela Valdir, o irmão
mais novo.
Para Antônio de Medeiros, o botequim é como a
própria residência que mantém apenas como dormitório, em Lagoa Nova.
“Passo a maior parte do tempo no bar, para casa mesmo vou só à noite
quando fecho tudo. E logo cedo estou de volta. Descanso é no domingo,
mesmo assim venho para o bar pela manhã para limpar a geladeira e o
restante das coisas que ficaram sujas”, relata.
O dono do ‘Caixa de Fósforo’ deixa claro a opção pelos clientes mais
antigos, ainda que sirva com cordialidade qualquer pessoa que chegue ao
bar para tomar, geralmente, uma cerveja gelada. E reafirma o sentimento
caseiro que tem pelo boteco. “Aqui dentro do bar não entra forasteiro.
Até porque não boto qualquer pessoa para dentro da minha casa”, disse.
Além do tamanho, o Caixa de Fósforo também se difere dos
outros botequins por vender apenas cerveja em lata e long neck. A opção
foi feita depois de um problema com a burocracia da Ambev e a decisão
foi aprovada pelos frequentadores. “O pessoal gostou porque a cerveja
esquenta menos no copo e para nós também foi ótimo, já que o consumo até
aumentou”, comemora.
A cozinha, comandada simultâneamente
pelos dois irmãos, uma herança da mãe que ensinou o ofício para os 14
filhos, também é destaque no estabelecimento. No cardápio dos
tira-gostos, que custam em media R$ 5, o prato, aparecem rabada,
galinha, peixe frito, cozido, carneiro e a costela de porco.
Do
atendimento ao tira-gosto, tudo é aprovado pelos clientes mais antigos.
Que o diga o aposentado João Revorêdo, de 80 anos, que acompanha os
irmãos Medeiros desde a fundação do Caixa de Fósforo. Nem a ausência de
mulheres, num ambiente predominantemente machista, é motive de queixa.
“Para arengar já tenho uma velha lá em casa. Para mim, aqui, é o melhor
boteco de Natal. Venho para cá porque se eu ficar parado morro. Meu
serviço é beber”, filosofou.
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