Texto: Rafael Duarte
Foto: Adriana Spaca
As sandálias Havaianas completam 50 anos
em 2012. Sucesso absoluto. O TRE que me perdoe a propaganda antecipada,
mas as Havaianas são, entre as candidatas, a mais brasileira das
sandálias. E vamos ser honestos, os caras sabem vendê-la. Mesmo mudando o
slogan do produto na mesma velocidade com que técnico de futebol muda
de clube. Hoje se boa parte dos pés brasileiros calçam as ‘legítimas’,
até pouco tempo atrás calçavam as que não davam cheiro nem soltavam as
tiras.
Na área das
vendas, no metier da publicidade, gosto, em especial, daquela propaganda
em que o ator Lázaro Ramos conversa com uma turma de amigos brasileiros
sobre os problemas do Brasil. Ali, na praia, a rapaziada abre o coração
e fala de peito aberto das mazelas, das dificuldades, enfim, do que não
presta neste país tropical abençoado por Deus. De lado, um argentino
olha a conversa e, claro, concorda com tudo. Mexeu em casa de maribondo.
Argentino falando mal do Brasil em pleno Rio de Janeiro? Não pode. E o
vídeo termina com a galera botando o hermano para correr.
É que dos defeitos da gente entendemos
nós. Forasteiro não dá pitaco na casa dos outros. Vai encarar?
Brasileiro é assim e pronto. No futebol e na política o sujeito até
admite que fez merda, mas não venha alguém de fora apontar o dedo para o
que está errado. Atualmente ninguém simboliza melhor esse personagem
brasileiro que o Lulista. Ex-presidente mais popular da história do
país, Lula é o Brasil cheio de contradições dos brasileiros, mas que
argentino nenhum pode mangar. Nos bastidores, entre quatro paredes, o
Lulista reconhece em Lula um Deus de carne e osso que tem vários
defeitos, mas vá qualquer outro apontá-los para ver o que acontece.
No fundo, o Lulista de verdade não
absorveu o discurso de que o projeto de poder de qualquer partido tem
ligação direta com a cooptação de aliados, tenham eles os defeitos que
tiverem. Para ele, o Lulista de fé, a qualidade ainda tem
prioridade sobre a quantidade. Para o Lulista histórico, não devia-se
rasgar os princípios em nome dos benefícios de qualquer vitória.
Quando Lula toca a campanhia da mansão
de Maluf com o Hadadd a tiracolo, não significa apenas 1 minuto e 35
segundos a mais no tempo da TV do PT em São Paulo. Ali, com a mão
estendida, na casa alheia, o ex-presidente reconhece, com um sorriso
amarelo, que tem que dar para receber. O Lulista hoje é um compulsivo em
potencial a procura desesperada da próxima desculpa. É aquele assessor
de imprensa que morre de medo que o chefe mande convocar uma
entrevista coletiva porque sabe que, ao final do discurso, vai ter que
preparar a nota oficial da empresa dizendo que não foi bem aquilo que o
‘homem’ quis dizer.
O Lulista é um brasileiro legítimo apaixonado pelo
tempo em que Lula não soltava as tiras.
*Dedicado a Francisco José Duarte, meu pai
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