sexta-feira, 22 de junho de 2012

O LULISTA*

   
   Texto: Rafael Duarte
   Foto: Adriana Spaca
   
  
 

As sandálias Havaianas completam 50 anos em 2012. Sucesso absoluto. O TRE que me perdoe a propaganda antecipada, mas as Havaianas são, entre as candidatas, a mais brasileira das sandálias. E vamos ser honestos, os caras sabem vendê-la. Mesmo mudando o slogan do produto na mesma velocidade com que técnico de futebol muda de clube. Hoje se boa parte dos pés brasileiros calçam as ‘legítimas’, até pouco tempo atrás calçavam as que não davam cheiro nem soltavam as tiras.

Na área das vendas, no metier da publicidade, gosto, em especial, daquela propaganda em que o ator Lázaro Ramos conversa com uma turma de amigos brasileiros sobre os problemas do Brasil. Ali, na praia, a rapaziada abre o coração e fala de peito aberto das mazelas, das dificuldades, enfim, do que não presta neste país tropical abençoado por Deus. De lado, um argentino olha a conversa e, claro, concorda com tudo. Mexeu em casa de maribondo. Argentino falando mal do Brasil em pleno Rio de Janeiro? Não pode. E o vídeo termina com a galera botando o hermano para correr.

É que dos defeitos da gente entendemos nós. Forasteiro não dá pitaco na casa dos outros. Vai encarar? Brasileiro é assim e pronto. No futebol e na política o sujeito até admite que fez merda, mas não venha alguém de fora apontar o dedo para o que está errado. Atualmente ninguém simboliza melhor esse personagem brasileiro que o Lulista. Ex-presidente mais popular da história do país, Lula é o Brasil cheio de contradições dos brasileiros, mas que argentino nenhum pode mangar. Nos bastidores, entre quatro paredes, o Lulista reconhece em Lula um Deus de carne e osso que tem vários defeitos, mas vá qualquer outro apontá-los para ver o que acontece.

No fundo, o Lulista de verdade não absorveu o discurso de que o projeto de poder de qualquer partido tem ligação direta com a cooptação de aliados, tenham eles os defeitos que tiverem. Para ele, o Lulista de fé, a qualidade ainda tem prioridade sobre a quantidade. Para o Lulista histórico, não devia-se rasgar os princípios em nome dos benefícios de qualquer vitória.

Quando Lula toca a campanhia da mansão de Maluf com o Hadadd a tiracolo, não significa apenas 1 minuto e 35 segundos a mais no tempo da TV do PT em São Paulo. Ali, com a mão estendida, na casa alheia, o ex-presidente reconhece, com um sorriso amarelo, que tem que dar para receber. O Lulista hoje é um compulsivo em potencial a procura desesperada da próxima desculpa. É aquele assessor de imprensa que morre de medo que o chefe mande convocar uma entrevista coletiva porque sabe que, ao final do discurso, vai ter que preparar a nota oficial da empresa dizendo que não foi bem aquilo que o ‘homem’ quis dizer. 

O Lulista é um brasileiro legítimo apaixonado pelo tempo em que Lula não soltava as tiras.


*Dedicado a Francisco José Duarte, meu pai

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